''Acorda, sê e vê ... Tudo é tão simples''

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Canção do desespero



Não existe pior vazio, do que parar e pensar no vazio.


(Antes as coisas tinham um valor inexplicável.
Eu não sei o que aconteceu.
Mentir é fácil demais.)

Remédios


Minha vida está resumida em palavras,
Talvez alguns gestos simples e algumas lágrimas inúteis.
Até espero algo do futuro,
Mas ele parece não chegar.

Tenho as mãos cheias de sangue
E os braços cheios de cicatrizes.
Você me diz que se eu quiser ser infeliz o problema é meu...
E dizer isso é tão fácil.

Eu tomo remédios, meu bem.
Eu tomo remédios.


Hoje o dia está quente como há dias não estava.
Hoje eu estou triste.
Hoje não neva nem chove.
Hoje minhas lágrimas se esconderam,
E não sei onde estão.

Vou me limitar às coisas tristes.
Ao futuro imprevisto e cego,
E todos os chamados de amor que não foram ouvidos.

Minha existência se limita ao que eu não posso prever.
E todas as poesias foram vãs.
E todas as coisas se limitam a nada.

domingo, 15 de novembro de 2009

História de amor contemporâneo.



Todos os dias pela manhã, ela sai na janela e fica olhando o céu.
Ela tem um jeito triste até de sorrir.
Vai à missa, vai ao colégio, come feijão.
Anda de um jeito estranho.
Tem um namorado
Sempre está cantarolando.
Bebe água de coco quando volta da escola.
Tem 15 anos.
Ela tem medo de morrer.
Tem aulas de balé
Não é bonita, mas não serve pra feia.
Percebe quando ele fica olhando para ela no intervalo.
A mãe dele é louca, dizem que vê até fantasmas.
Ele não é feio, é muito bonito.
Mas parece um pouco maricas
E dizem que escreve poemas!
Pode? Poemas!

Quando acorda ele toma banho, todos os dias.
Quer ser médico, igualzinho o pai.
Nunca beijou uma moça
Mas é ela que ele quer beijar...
Mas ela tem namorado.
Ele escreve poemas
Todos os versos são pra ela.
Será que ela sabe?
Como poderia saber... Ele nunca falou pra ela.
Tem 15 anos
Mora numa casa grande, com cinco irmãos.
Sua mãe é louca, dizem que vê até fantasmas.
Anda sempre sozinho
Não tem amigos
Dizem que é maricas.
Mas ele ama ela.

Casaram-se.
O nome dela Elizabete, o dele Antônio.
Aos domingos vão à missa.
Os dois são muito respeitados pela sociedade.
Tiveram três filhos, o mais velho suicidou-se aos 13 anos.
Moram numa casa grande
Ele médico, ela bailarina.
Ele ainda escreve poemas, todos pra ela.
Ela conheceu um médico amigo dele e se apaixonou.
Tiveram um caso.
Ele descobriu.
Ele matou ela e o amigo.
Nunca mais ele escreveu poemas.